Como tudo na vida, criar uma sombra é um processo. Ninguém procura aumentar o poder da sombra, mas todos nós o fazemos. A sombra aumenta sempre que você recorre ao seguinte: Manter segredos de você mesmo ou dos outros. Uma vida secreta dá à sombra material para evoluir. Formas de segredo são negação, fraude deliberada, medo de expor quem você é e condicionamento em função de uma família desequilibrada. Fomentar culpa e vergonha. Todos somos falíveis; não há ninguém perfeito. Mas, se você se sentir envergonhado de seus erros e culpado por suas imperfeições, a sombra ganha poder. Ser injusto com você mesmo e com os outros. Se você não consegue encontrar um meio de liberar sua culpa e vergonha, é muito fácil concluir que você — e outros — as merece. O julgamento é a culpa usando uma máscara para disfarçar sua dor. Precisar de alguém para culpar. Uma vez que você decida que sua dor interior é uma questão moral, não terá problemas em culpar outra pessoa que julgue inferior a você de alguma forma. Ignorar as próprias fraquezas ao criticar os que estão à sua volta. Esse é o processo de projeção que muitos não enxergam, nem compreendem muito bem. Mas, sempre que você tenta explicar a situação como um ato de Deus ou do Diabo, você está projetando. O mesmo vale para identificar “eles”, as pessoas más que causam problemas. Se você acredita que o problema está com eles, você projetou seu próprio medo, em vez de assumir a responsabilidade por ele. Separar-se dos outros. Se chegar a ponto de sentir que o mundo está dividido entre “eles” e “nós”, você vai naturalmente identificar seu lado como o lado bom e escolhê-lo. Esse isolamento aumenta a sensação de medo e desconfiança, ambiente em que a sombra prospera.
Lutar para manter o mal contido. No fundo do ciclo, as pessoas estão convencidas de que o mal está à espreita, em toda parte. O que realmente aconteceu é que os criadores da ilusão estão sendo iludidos por suas próprias criações. Tudo se juntou para dar à sombra um imenso poder. Demos o primeiro passo para remover o poder da sombra ao expor os processos que a alimentam. Existe uma espiral declinante. Ela começa com o pensamento de que é preciso manter segredos, depois, esses segredos, em vez de permanecerem silenciosamente escondidos, tornam-se a fonte de vergonha e culpa. Entra o julgamento pessoal. É doloroso demais conviver com isso, então, você procura alguém de fora para culpar. A espiral acaba levando ao isolamento e à negação. Quando você se encontrar lutando contra o pecado e o mal, já terá perdido de vista o fato básico que o salvaria (não é a redenção do Diabo). O fato básico é que você ingressou em todo esse processo por vontade própria, fazendo simples escolhas. Sendo assim, para escapar, precisa fazer escolhas opostas. Dividi essas escolhas em quatro categorias, como passos a serem dados: • Pare de projetar. • Desprenda-se. • Abra mão do julgamento pessoal. • Reconstrua seu corpo emocional. As escolhas básicas da vida estão disponíveis para todos. Tornamos as decisões opostas o tempo todo. A sombra nos persuadiu a culpar os outros em vez de assumir a responsabilidade. Ela nos diz que somos indignos de amor e respeito. Promove a raiva e o medo, como reações naturais à vida. Todos nós estamos emaranhados nessas escolhas desastrosas. Elas sufocam nossa vida e tiram toda a alegria. Portanto, nada é mais urgente do que reverter o processo, e quanto mais cedo melhor.
Passo 1: Pare de projetar A sombra, segundo Jung, nos diz para ignorar as próprias fraquezas e projetá-las nos outros. Para evitar a sensação de que não somos bons o bastante, enxergamos os que estão ao nosso redor como se fossem suficientemente bons. Inúmeros exemplos vêm à mente. Alguns são triviais, enquanto outros são uma questão de vida ou morte. A mais recente atriz de sucesso no cinema é criticada por perder peso demais, enquanto uma nação inteira se torna mais obesa. Movimentos contra a guerra são denunciados como antipatriotas, enquanto todos estão pagando impostos para matar cidadãos de um país que nunca fez mal algum à América. Todos usam a projeção como uma defesa para evitar olhar para dentro de si mesmos. Percebam que essa é uma defesa inconsciente. O molde da projeção é a seguinte afirmação: “Não posso admitir o que sinto, então, imagino que você sinta”. Consequentemente, se você não consegue sentir a própria raiva, rotula um grupo da sociedade como violento e temível. Se você inconscientemente sente uma atração sexual que considera tabu, tal como atração por alguém do mesmo sexo ou pensamentos de infidelidade, você acha que os outros estão direcionando esse tipo de atração a você. A projeção é muito efetiva. Um falso estado de autoaceitação é criado com base em “Eu estou bem, mas você não está”. No entanto, a autoaceitação se estende a outras pessoas; quando você está bem consigo mesmo, não há motivo para determinar que o outro é que não está bem.
Você está projetando? Aqui estão as formas típicas que a projeção pode assumir: Superioridade. “Eu sei que sou melhor que você. Você deveria ver e reconhecer isso.” Injustiça. “É uma injustiça que essas coisas ruins aconteçam comigo” ou “Eu não mereço isso.”
Arrogância. “Tenho orgulho demais para me incomodar com você. Até sua presença me irrita.” Defensiva. “Você está me atacando, então, não estou ouvindo.” Culpar os outros. “Eu não fiz nada. É tudo culpa sua.” Idealizar os outros. “Meu pai era como um Deus quando eu era pequeno”, “Minha mãe era a melhor mãe do mundo” ou “O homem com quem eu me casar será o meu herói”. Preconceito. “Ele é um deles, e você sabe como eles são” ou “Cuidado, esse tipo de gente é perigosa.” Ciúme. “Você está pensando em me trair; posso ver isso.” Paranoia. “Eles querem me pegar” ou “Eu vejo a conspiração que ninguém mais vê”. Sempre que um desses comportamentos surgir, há um sentimento oculto na sombra que você não consegue encarar. Aqui estão alguns exemplos: A superioridade camufla o sentimento de fracasso ou o de que os outros o rejeitariam se soubessem quem você realmente é. A injustiça camufla o sentimento de pecaminosidade ou a sensação de que você é sempre culpado. A arrogância camufla a raiva acumulada e, abaixo dela, há uma dor profundamente arraigada. A defensiva camufla a sensação de que você é indigno e fraco. A menos que você se defenda dos outros, eles começarão a atacá-lo. Culpar os outros camufla a sensação de que você está agindo errado e deveria se envergonhar.
Idealizar os outros camufla a sensação de que você é uma criança fraca e indefesa, que precisa de proteção e cuidados. O preconceito camufla o sentimento de que você é inferior e merece ser rejeitado. O ciúme camufla seu próprio impulso de desvio ou um senso de inadequação sexual. A paranoia camufla uma ansiedade entranhada e sufocante. Como você pode ver, a projeção é muito mais sutil do que se imagina. No entanto, é uma porta aberta para a sombra. É uma porta dolorosa, já que aquilo que é visto como falha nos outros mascara seu sentimento em relação a você mesmo. O ideal seria que pudéssemos parar de culpar e julgar de uma vez por todas. Na realidade, desfazer a sombra é sempre um processo. Para interromper a projeção, você precisa enxergar o que está fazendo, entrar em contato com o sentimento oculto sob a superfície e fazer as pazes com esse sentimento. Veja o que você está fazendo.
É fácil reconhecer quando se está projetando? Uma dica é a negatividade — a projeção nunca é neutra. Ela se manifesta como uma energia negativa porque o que está sendo camuflado é negativo. Isso acaba sendo um auxílio. Você sabe quando está se sentindo zangado ou ansioso. Esses são sentimentos sombrios. Mas, quando você está direcionando sua raiva a alguém, ou alguma coisa, ou vendo razões para temer por toda parte (a negatividade está presente), você tem um exemplo claro de projeção. Espero que consiga enxergar a diferença entre os sentimentos e a projeção desses sentimentos; sentir raiva é útil, mas direcionar a raiva aos outros, culpando-os, não é. A sociedade quer que você continue culpando, porque pensar em “nós versus eles” é um modo — muito ruim — de manter uma sociedade unida. Daí a voz em sua cabeça que quer “pegá-los” os terroristas, os comunistas sem Deus, os criminosos, os traficantes, os molestadores de crianças. A lista é interminável. Em vez de aceitar todos os motivos para “culpá-los” e julgar todas as faltas deles (por razões que possam ser válidas), siga um caminho diferente. Olhe para si mesmo e veja o que esse jogo de culpar os outros revela sobre você. Uma vez, durante uma palestra do notável professor espiritual J. Krishnamurti, alguém na platéia levantou para fazer uma pergunta:
— Quero paz no mundo. Abomino a guerra. O que posso fazer para ajudar a alcançar a paz? —Pare de ser a causa da guerra — respondeu Krishnamurti. O espectador ficou perplexo. —Não sou a favor da guerra. Só quero a paz. Krishnamurti sacudiu a cabeça. — Dentro de você está a causa de todas as guerras. É sua violência, oculta e negada, que conduz às guerras de todo tipo, seja dentro de seu lar, contra outros da sociedade ou entre nações. Sua resposta nos deixa incomodados, mas acho que é verdadeira, pois o rishi védico proclamou: — Você não está no mundo. O mundo está em você.
Se é assim, portanto, a violência do mundo está em cada um de nós.
Trecho do Livro O efeito sombra.
Deepak Chopra, Debbie Ford e Marianne Williamson.
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